Quando falamos em Roda do Ano estamos falando do ciclo anual composto na maioria das vezes por quatro ou oito festivais e que marcam a passagem das estações, relacionando estas às fases de nossa vida e tecendo uma ligação que nos permite aprender sobre nós mesmos ao observarmos as mudanças na paisagem.
Eu costumo dizer que ser druidista aqui no Hemisfério Sul já começa complicado, pois o iniciante já se depara com uma dúvida muito grande: Roda do Sul ou Roda do Norte?
E essa decisão não é fácil já que inúmeros fatores devem ser levados em consideração. Coisas que a maioria dos iniciantes (e muitos dos veteranos também) nem mesmo imaginam, como questões astrológicas por exemplo, podem influenciar nesta tomada de decisão.
Aqueles que usam a Roda do Norte costumam alegar a questão da Egrégora, de como já é tradicional celebrar os festivais naquelas datas e que outras espiritualidades não tem suas datas invertidas no Hemisfério Sul.
Quem celebra pelo Sul usa como principal argumento o fato de que o druidismo é uma religião da natureza, que observá-la faz parte dos ensinamentos do druida e que a Roda do Ano é simbolicamente a própria passagem do ano.
Quando comecei a praticar o druidismo essa dúvida também me assolava e todos os argumentos pareciam ter sentido para mim, tanto dos que defendiam a Roda do Norte quanto os que defendiam a Roda do Sul.
Eu já achava que solstícios e equinócios devem ser celebrados em sua própria data e não havia Egrégora que pudesse me convencer do contrário. No druidismo não tratamos o Solstício de Inverno como Yule ou Equinócio de Outono como Mabon; vamos na cerne de seu significado e por isso esses festivais precisam ser observados como realmente são.
O maior problema é que Lughnassadh por exemplo, fazia sentido para mim tanto em fevereiro quanto em agosto. Temos muitas colheitas no Brasil e por vezes eu pensava em respeitar a Egrégora da Tradição e por vezes pensava no ciclo da Natureza.
Mas foi em uma viagem em família que eu recebi a Inspiração que guiou meu caminho e é justamente isso que quero compartilhar com vocês hoje.
Estive no final de julho de alguns anos atrás em São Joaquim, no planalto catarinense, para visitar minhas avós e meus tios. Já tem muitos anos que não moro mais lá, mas meus pais e eu sempre vamos até minha cidade natal para rever a família.
Na viagem de volta passamos por um campo onde vários cordeirinhos brincavam e pulavam, quando meu pai comentou: “é, está mesmo na época das ovelhas começarem a nascer”.
Aquilo caiu na minha cabeça como uma bomba: estavamos próximos do começo do mês de agosto, dias antes de celebrar Imbolc/Oilmec que significa provavelmente “lactação das ovelhas”. E eu pensei comigo: Bingo!!
Era essa a peça que faltava para eu compreender a Roda do Ano e foram as pequenas ovelhinhas que me deram a pista.
Desde então a Roda pelo Sul ganhou um maior sentido para mim e percebi o quanto as estações do ano influenciavam em minha vida e como meu corpo, minhas atitudes, minhas conquistas e meu humor eram reflexo disso tudo. Não consigo mais celebrar Beltane no final do verão e não me importo com sua proximidade com Finados. Tampouco me importo que Samhain fique tão longe do dia cristãos dos mortos, pois percebo que nossa visão e a visão deles é muito diferente; enquanto uns choram, outros brindam.
E a cada ano que passa, cada giro que a Roda dá, procuro me alinhar com o Planeta, sentir as nuances e perceber os melhores momentos para agir ou me recolher, para falar ou para ouvir, para plantar ou para colher. E acho que essa visão é que permite ao druida compreender este Mundo e também o Outro.
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