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Archive for the ‘30 Dias’ Category

Recorro mais uma vez à etmologia, como de praxe, para poder escrever outro texto desta série. E vemos que aa origem da palavra, consciência é o estado que quem sabe, ou seja, de quem está ciente de algo.

E o que é estar ciente? Bom, estar ciente é não andar no escuro e a cada passo dado levar em consideração os fatores que o cercam. É pensar nas pessoas ao seu redor antes de tomar uma decisão. É pensar no meio ambiente, na sociedade, nos deuses, nos nossos filhos e no nome dos nossos antepassados e ter certeza que estamos seguindo pelo melhor caminho.

Enfim, levar uma vida consciente é outra obrigação do druida, pois é necessário que ele esteja sempre de olhos bem abertos para que todas suas decisões levem em consideração o impacto que causará a si mesmo, ao seu povo e ao seu Mundo.

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Uma das heranças de minha criação e educação católica é o hábito incontestável da oração. Isso porque orações são os meios de comunicação que temos para falar com nossos deuses e devem ir muito além de apenas súplicas, pedidos de graças e agradecimentos pelas conquistas.

O ato de orar é o momento de falarmos com alguns de nossos amigos, os deuses. E com amigos podemos conversar, contar histórias, pedir conselhos ou desabafar. Orações são o vínculo que fortalecem essa amizade e permitem que nossos deuses nos ouçam.

E existem inúmeras formas de orar: há quem ore em voz alta e outros em pensamento, quem o faça sozinho ou em grupo, de forma espontânea ou com rezas decoradas, há quem cante e quem lance palavras escritas ao fogo. Isso pouco importa, pois são apenas canais para que a verdadeira intensão chegue até seus deuses.

E quando orarmos, que não sejamos mesquinhos. É função do druida interceder pela cura e pelo desenvolvimento de seu povo. E para tal, a oração é uma ferramenta muito valiosa.

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Outro tema um pouco controverso é sobre a magia dentro do druidismo, visto que alguns grupos a enaltecem dizendo que ela é o coração desta espiritualidade, enquanto outros a abominam e dizem que trata-se apenas de feitiçaria.

Se levarmos as lendas celtas em consideração, veremos que a magia é uma constante, porém é uma magia geralmente distinta daquela comum à outras espiritualidades pagãs.

São dezenas as histórias em que os druidas têm o dom da metamorfose, como a de Gwion Bach e Cerridwen ou a de Gwydion e Lleu Llaw Gyffes ou a de Pwyll e Arawn ou ainda a de Fintan mac Bóchra, sendo bem comum que estes assumam a forma de outras pessoas ou a forma de algum animal. Simbolicamente podemos analisar esta troca de forma como uma troca na maneira de enxergar o Mundo. Quando o druida torna-se um falcão é para poder perceber a Natureza a sua volta pelos olhos desta ave e assim compreender coisas que os olhos humanos não o permitiam.

Outra forma de magia atestada são as poções mágicas, como no caso do filtro do amor preparado pela sábia mãe de Isolda (que também se chamava Isolda) para que ela se apaixonasse pelo rei Mark, tio de Tristão. Essa poção não tinha outra poder senão o de fazer com que a jovem princesa pudesse enxergar seu marido com outros olhos, de forma que pudesse se apaixonar por ele.

Na cultura pop temos a poção do druida Panoramix, que fazia com que os irredutíveis gauleses fossem imbatíveis no combate contra seus inimigos, principalmente enfrentando os loucos romanos. Aqui vemos simbolicamente o poder do druida de aumentar a moral de uma tropa, incentivando estes para o combate e fazendo com que eles se enxergassem como guerreiros invencíveis.

E na busca pela sabedoria e pelo dom da Visão que, novamente ela, Cerridwen preparou uma poção para seu filho Morfran, a qual foi bebida por Gwion Bach. Da mesma forma, Finn Eces pescou o Salmão da Sabedoria e magicamente o preparou, sendo que acidentalmente seu assistente Fionn mac Cumhaill consumiu a primeira porção e recebeu todo o Saber Druídico. Em ambas as histórias vemos o druida preparando (mesmo que acidentalmente), seu simbólico discípulo e dando a este a capacidade de enxergar as nuances do Mundo.

E para não me estender mais, eu não estou dizendo que a feitiçaria não existiu entre os antigos celtas e que não possa existir entre os druidas de atualmente. Tudo que quero dizer é que diferente desta, a magia druídica não tem a intensão de controlar a Natureza e sim de entendê-la e neste entendimento tornar o druida capaz de agir da melhor maneira possível. É vendo com outros olhos e fazendo com que seu Povo também veja, que o druidismo permite que as mudanças cheguem e é aí que reside a verdadeira magia.

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Lembro-me muito bem das minhas primeiras aulas de Filosofia em um colégio católico de Lages. O professor dessa disciplina era um frei e nunca vou esquecer da surpresa que tive no primeiro dia quando ele disse que “o filósofo é o amigo da sabedoria”, sendo essa a etmologia da palavra.

E por falar em etmologia, o que quer dizer ciência?
Muito mais do que matemática, física, química e outras disciplinas, ciência (do latim “scientia“) quer dizer conhecimento. Estar ciente é conhecer o assunto de que se trata.

Então esse tópico de hoje é sobre a relação do druidismo com o Conhecimento e Sabedoria. Acho até que poderia parar de escrever por aqui mesmo, mas vamos um pouco além.

Sabemos que os druidas se encarregavam de diversas funções nos tempos antigos: eram professores, médicos, legisladores, conselheiros, oradores e para isso precisavam estudar muito, de forma que pudessem adquirir os conhecimentos (ciências) necessárias para suas funções.
Cabiam a eles esses cargos porque a maioria dos cidadãos comuns não tinham acesso aos estudos e não era incomum que as famílias mandassem seus filhos estudar no Colégios Druídicos, mesmo que não almejassem que estes se tornassem druidas.

É também de censo comum que na obra Geôgraphiká de Strábôn, este diz que os vates era filósofos naturais e que os druidas se ocupavam além da filosofia natural, também com a filosofia moral. Ou seja, cabia à classe druídica a sabedoria das coisas da natureza (botânica, zoologia, meteorologia etc) e a sabedoria da ética  e da moral.
Podemos dizer que o Conhecimento é o acúmulo de estudos e dos ensinamentos que nos são passados, enquanto que a sabedoria usa a experiência de vida para assimilar os conhecimentos e torná-los em algo usual.

Não basta que um bardo conheça e decore centenas de lendas e poemas, se ele não tiver a capacidade de entender os mistérios e lições que as histórias  tem para contar. Da mesma forma que as experiências de vida não seria suficientes para tornar alguém sábio, se este não tiver uma base que só os estudos das ciências podem dar.

A porta que permita a busca pela Ciência (Eulaxsus) e pela Filosofia (Uesos) é o Questionamento (Uocomarcos), ou seja, estar sempre pesquisando e buscando conhecer e entender o Mundo em que vive.

E é missão diária do druida Buscar Ciência e Sabedoria  e fazê-los andar juntos em sinergia, para assim estar preparado para ensinar, ajudar e aconselhar seu Povo.

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Quando falamos em Ética, estamos falando em estilo de vida e em como se comportar dentro da sociedade. E por ser algo muito pessoal, os códigos éticos tendem a mudar dentro de cada contexto ou agrupamento de pessoas, geralmente baseados em o que cada povo considera certo ou errado. E ainda, por ser baseado em crenças, a espiritualidade tem uma grande influência na composição da moral e da Ética.

No contexto do druidismo, nosso código ético está profundamente relacionado com nossa concepção de Mundo e dos deuses e com nossa relação com eles.

Em geral somos animistas e por considerar que todos os seres possuem espírito, não podemos nos enxergar como diferentes deles. Pelo contrário, os praticantes do druidismo sabem que somos todos irmãos e é por isso que temos um profundo respeito pela Natureza.
Quando falamos em preservar o meio ambiente, não é puramente pelo anseio de deixarmos um Mundo melhor para nossos filhos ou para termos um rio limpo onde nos banharmos no final de semana. Agimos assim porque sabemos que esse mesmo rio é um irmão, assim como as árvores, as montanhas e os animais.
Além disso, sabemos que é na Natureza que residem nossos deuses e que se queremos manter uma relação de amizade com eles, não podemos sujar sua casa, pois devemos ser ótimos como anfitriões, mas melhor ainda como hóspedes.

Druidistas tendem também a sempre ouvir e respeitar os mais velhos, pois sabemos que eles são a receptáculo do conhecimento e da sabedoria, que são nossos ancestrais em vida e que um dia seremos nós os anciãos.

E é também pautado no respeito à ancestralidade que damos tanto valor ao núcleo familiar. É por isso que temos sempre a tendência a defender e honrar nossos pais, avós, tios e irmãos. E também os amigos, por que não? Afinal dizem por aí que os amigos são a família que escolhemos.

Os druidas acreditam também que depois desta vida, outra começa. Acreditamos que nosso espírito pode habitar outros corpos em outras vidas. E isso também influencia nossa ética, porque sabemos que nossas ações podem influenciar nossas vidas futuras.

A ética deve ser sempre pautada no que o ser humano considera como algo bom. Ao nos colocarmos no lugar dos outros poderemos perceber se as atitudes que tomamos fazem o bem e é esse julgamento cotidiano que constitui a ética.

Honrar os deuses, fazer o bem e viver com valentia. Assim deve agir um druida.

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Para os povos primordiais (aos quais tenho ressalvas em chamar de povos primitivos, pelo significado de “atrasados” que essa palavra nos traz) as arte, religião e ciência eram como as três faces de uma mesma jóia: a sabedoria. E é por isso que entre os celtas esses três conhecimentos eram legados à classe dos druidas, já que eram eles os mantenedores do conhecimento das Tribos.

A poesia, uma das artes mais apreciadas na Antiguidade (e que infelizmente perdeu parte do seu valor no presente, dando lugar para outras formas de entretenimento menos intelectuais), era parte do domínio dos bardos e eles tinham na ponta da língua centenas de versos que encantavam seus espectadores.

Era um dever bárdico guardar as memórias do Povo e a Poesia era a forma que eles tinham de decorar as diversas histórias, com todas suas nuances, genealogias e pormenores, já que o conhecimento era passado de forma oral.
A métrica e as rimas da Poesia ajudavam na difícil tarefa de memorizar todos os detalhes e peculiaridades das lendas e por isso era tão importante.

Atualmente, neste mundo rápido em que vivemos, onde tudo tem um prazo de validade tão reduzido, a Poesia perdeu muito de sua glória, mas um poeta de língua afiada ainda é capaz de emocionar as pessoas por onde passa. E se tiver acompanhado de uma harpa e contando velhas histórias, é capaz de emocionar também os deuses que o estiverem ouvindo.

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Dentro do druidismo, assim como em várias outras tradições espirituais, as histórias tem um papel muito importante, porque é através delas que o conhecimento é passado de forma simbólica para a Tribo.

Nem todo mundo está preparado para receber o saber puro, ainda mais quando tratamos de temas profundos como aqueles abordados pela religião: quem são os deuses, como o Mundo foi criado, de onde viemos, para onde vamos após a morte etc. E é aí que entra a linguagem simbólica que é inerente às histórias.

Quando as lendas eram contadas ao membros do clã, esperava-se que através dos exemplos dos heróis descritos nos contos e de seus feitos fabulosos, as pessoas pudessem compreender as questões éticas e morais ou entender os ciclos da natureza ou ainda aprender uma gama de outras coisas que pudessem ser interessantes, mas que seriam de difícil assimilação através de ensinamentos diretos.

E ainda hoje podemos aprender muito sobre o pensamento celta, sua forma de viver, seus códigos de conduta e sua relação com o Mundo ao conhecermos suas velhas histórias. Mas não basta apenas lê-las ou as decorar. Se não formos atrás de desvendar sua simbologia, elas serão apenas fábulas desprovidas de significado e vazias de sabedoria.

É fundamental que o druida enxergue essas histórias com outros olhos e busque nelas sua origem e sua alma, para só assim estar pronto para acessar o antigo saber que elas trazem.

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Quando falamos em meditação, muita gente logo pensa em deixar a mente vazia e não pensar em nada. E realmente as meditações desse tipo, as meditações de concentração, são muito válidas e importantes para remover distrações e permitir ver o mundo com mais clareza. Afinal somente com a mente desperta podemos estar prontos para refletir e ponderar sobre nossos questionamentos.

Outra forma são as meditações contemplativas, ferramentas para a compreensão de questões e ensinamentos muito profundos, principalmente quando se tratam de temas que extrapolam as capacidades de nossas mentes racionais. Para esse tipo de assunto, a meditação contemplativa permite ativar outras faculdades intelectuais mais internas e assim conseguir as respostas que procuramos. Nesta prática, devemos nos sentar em uma posição confortável e em primeiro momento esvaziar a mente para em seguida começar a refletir a respeito do assunto em questão, deixando a mente livre para ir além do racíocinio normal, em direção a resposta que buscamos.

No Caer Ynis costumamos fazer uma meditação focada logo no início de cada ritual, onde cada participante escolhe um objeto do altar como auxiliar na jornada meditativa e deixa que o espírito desse objeto o guie.

Particularmente tive uma experiência muito forte nesse tipo de meditação quando iniciei minha jornada pelo Caminho do Guerreiro. Sem preparo algum decidi meditar com a Espada desembainhada sobre o colo e esta me levou para os campos de batalha, onde pude perceber que a guerra não é romântica como nos contam e que deve ser a última opção de um povo.

Meditações de concentração, contemplação ou focadas devem ser uma constante na vida de um druida, pois são ferramentas muito valiosas e que permitem ir além dos limites da razão, em busca da compreensão de questões pertinentes em seu ofício.

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Toda religião coloca o homem em uma busca e é necessário estudo, dedicação, fé e compromisso para alcançar este objetivo. Algumas propõem a busca por Redenção, outras por Libertação, outras ainda por Poder e por aí vai. No druidismo nossa busca é por Inspiração.

E a Inspiração, que alguns chamam de Imbas ou Awen, é a forma de percebermos os recados que nossos deuses nos dão e as indicações de que caminho seguir em nossa jornada. Ao mesmo tempo, a Inspiração é um presente que recebemos e que permitem que alguns de nossos dons aflorem.

Ela pode se manifestar de várias maneiras: seja através de uma canção ou poema que pipoca em nossa mente, em um sonho revelador, nas palavras certas que saem da boca e um momento oportuno, em uma voz que fala dentro de nossa cabeça com bons conselhos, em uma idéia inovadora que surge de repente…

Dizemos que está Inspirado alguém que realiza alguma coisa que deixe os demais extasiados, surpresos e felizes. E é assim, porque alguém Inspirado fala como os deuses!

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Quando falamos em Roda do Ano estamos falando do ciclo anual composto na maioria das vezes por quatro ou oito festivais e que marcam a passagem das estações, relacionando estas às fases de nossa vida e tecendo uma ligação que nos permite aprender sobre nós mesmos ao observarmos as mudanças na paisagem.

Eu costumo dizer que ser druidista aqui no Hemisfério Sul já começa complicado, pois o iniciante já se depara com uma dúvida muito grande: Roda do Sul ou Roda do Norte?
E essa decisão não é fácil já que inúmeros fatores devem ser levados em consideração. Coisas que a maioria dos iniciantes (e muitos dos veteranos também) nem mesmo imaginam, como questões astrológicas por exemplo, podem influenciar nesta tomada de decisão.

Aqueles que usam a Roda do Norte costumam alegar a questão da Egrégora, de como já é tradicional celebrar os festivais naquelas datas e que outras espiritualidades não tem suas datas invertidas no Hemisfério Sul.

Quem celebra pelo Sul usa como principal argumento o fato de que o druidismo é uma religião da natureza, que observá-la faz parte dos ensinamentos do druida e que a Roda do Ano é simbolicamente a própria passagem do ano.

Quando comecei a praticar o druidismo essa dúvida também me assolava e todos os argumentos pareciam ter sentido para mim, tanto dos que defendiam a Roda do Norte quanto os que defendiam a Roda do Sul.

Eu já achava que solstícios e equinócios devem ser celebrados em sua própria data e não havia Egrégora que pudesse me convencer do contrário. No druidismo não tratamos o Solstício de Inverno como Yule ou Equinócio de Outono como Mabon; vamos na cerne de seu significado e por isso esses festivais precisam ser observados como realmente são.

O maior problema é que Lughnassadh por exemplo, fazia sentido para mim tanto em fevereiro quanto em agosto. Temos muitas colheitas no Brasil e por vezes eu pensava em respeitar a Egrégora da Tradição e por vezes pensava no ciclo da Natureza.

Mas foi em uma viagem em família que eu recebi a Inspiração que guiou meu caminho e é justamente isso que quero compartilhar com vocês hoje.

Estive no final de julho de alguns anos atrás em São Joaquim, no planalto catarinense, para visitar minhas avós e meus tios. Já tem muitos anos que não moro mais lá, mas meus pais e eu sempre vamos até minha cidade natal para rever a família.
Na viagem de volta passamos por um campo onde vários cordeirinhos brincavam e pulavam, quando meu pai comentou: “é, está mesmo na época das ovelhas começarem a nascer”.

Aquilo caiu na minha cabeça como uma bomba: estavamos próximos do começo do mês de agosto, dias antes de celebrar Imbolc/Oilmec que significa provavelmente “lactação das ovelhas”. E eu pensei comigo: Bingo!!
Era essa a peça que faltava para eu compreender a Roda do Ano e foram as pequenas ovelhinhas que me deram a pista.

Desde então a Roda pelo Sul ganhou um maior sentido para mim e percebi o quanto as estações do ano influenciavam em minha vida e como meu corpo, minhas atitudes, minhas conquistas e meu humor eram reflexo disso tudo. Não consigo mais celebrar Beltane no final do verão e não me importo com sua proximidade com Finados. Tampouco me importo que Samhain fique tão longe do dia cristãos dos mortos, pois percebo que nossa visão e a visão deles é muito diferente; enquanto uns choram, outros brindam.

E a cada ano que passa, cada giro que a Roda dá, procuro me alinhar com o Planeta, sentir as nuances e perceber os melhores momentos para agir ou me recolher, para falar ou para ouvir, para plantar ou para colher. E acho que essa visão é que permite ao druida compreender este Mundo e também o Outro.

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